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POVOS ORIGINÁRIOS

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            “Temos que reflorestar nosso imaginário e, assim, quem sabe, a gente consiga se reaproximar de uma poética de urbanidade que devolva a potência da vida.” ( Ailton  Krenak)  

Se queremos restaurar nossos ecossistemas, os povos indígenas têm muito a nos ensinar com seus conhecimentos ancestrais em que a identidade humana está ligada diretamente à natureza, cosmologicamente formando um único “ser”, ou seja, um não existe sem o outro, humanizando-se ecologicamente. Na verdade, a natureza pode seguir sua trajetória sem o ser humano, mas ele (o ser humano) não conseguirá seguir com seus descendentes sem ela (a natureza). O filósofo, ativista e imortal da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak afirma que “os humanos não são os únicos seres interessantes e que tem uma perspectiva sobre a existência”. É preciso trazer essa reflexão, pensar que somos seres insubstituíveis leva a uma deseducação ecológica, e, paralelamente, escraviza as pessoas a um sistema de não preservação.  

A ausência da compreensão do “ser” conforme cosmologia indígena a respeito do seu espaço e território e um desejo mercantil de conquistas e de crescimento econômico europeu levaram ao racismo ambiental e estrutural. Ainda hoje, a maioria dos brasileiros que não descendem dos povos originários deste território se afastaram demais dos seus modos do bem viver e ser com a natureza, logo, têm uma visão errada sobre os povos indígenas e sua integração com o restante da sociedade brasileira. 

Para os indígenas, a exploração descontrolada dos recursos naturais agride a natureza e a humanidade, contribuindo para o apagamento do corpo-território, que são as montanhas, rios, florestas e outros elementos. Felizmente, hoje há um processo de descolonização do corpo-território, mas é necessário que a sociedade não indígena também percorra essas trilhas de conhecimentos ancestrais para se sentirem “seres-biomas”, assim como os povos indígenas. 

A tecnologia ancestral é uma contraproposta ao modelo econômico consumista, que utiliza a natureza como mola para o materialismo do consumo. A cultura ancestral dos povos originários contribui para que o corpo-território não sofra com a crise do ecossistema, pois o calendário cosmológico sofre um colapso oriundo da manutenção mercantilista dos invasores deste território ancestral, conhecida como mudança climática. Essas mudanças, que ora são afirmadas por pesquisadores, ora negadas por uma parte da população, são um fato consolidado e inegável. Os resultados são, por exemplo, aumento da temperatura do Planeta Terra e enchentes acima da média, oriundas de falta de planejamento e políticas públicas para o meio ambiente, seja elas para agricultura, preservação de territórios indígenas, recursos hídricos (preservação de mananciais e rios), uso consciente dos bens de consumo e diminuição de consumo do plástico. 

Na cosmovisão eurocêntrica, a natureza e o homem são elementos distintos. Nas ciências indígenas não há divisão, isso inclui que o corpo-território e a espiritualidade não se dissociam. Há uma reciprocidade, um paradigma dialético entre ser humano e natureza, floresta e vida. É preciso compreender que, para a continuidade do ser humano, precisamos compreender uma filosofia de vida em que o território deve ser único no sentido do Bem viver indígena – e não indígena –, aja vista que todos eles serão extintos quando não houver mais recursos para sobreviver. Como disse Airton Krenak: as pessoas não poderão comer dinheiro quando não houver recursos hídricos e alimentos e se envenenarão de suas palavras e atitudes. 

O não indígena, ao se desconectar com a seu ser floresta, trilhou um caminho tortuoso, entendeu que a urbanidade sem preservação era algo similar ao progresso, uma doce ilusão, pois os resultados foram outros como o crescimento dos refugiados climáticos ou ambientais, o aumento de doenças e surgimento de outras, além de mortes devido às altas temperaturas e outras dificuldades a enfrentar. 

Defender a floresta representa amá-la, assim como os xamãs Yanomamis o fazem. Segundo um de seus líderes, o ativista Davi Kopenawa “A queda do céu”* sobre nós (nossas cabeças) é um acontecimento previsto tanto pelos povos indígenas quanto por cientistas e leva ao declínio humano. Logo, precisamos trilhar uma nova fase, de recomeços e reflorestamentos de mentes para que o Planeta Terra nos retorne meios para  uma nova perspectiva de vida.  

*KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras. 2015

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