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É alarmante notar que nos últimos anos ondas de calor, incêndios florestais, secas, inundações e maior frequência de eventos extremos foram registrados nos 5 continentes (África, América, Ásia, Europa e Oceania). As ondas de calor extremo afetaram 3,8 bilhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Universidade de Colúmbia, dos EUA. São evidências que apontam para um mundo em ebulição climática, como defende António Guterres, enquanto Secretário-geral da ONU, alertando para a velocidade do aquecimento e de seus efeitos em cadeia no balanço climático global.
Estatísticas demonstram que as mudanças climáticas afetam mais pesadamente pessoas pobres, negras, mulheres, crianças e idosos. Em estudo que relaciona o acesso a saneamento básico e dados socioeconômicos de Belém, Recife e São Paulo, o Instituto Polis aponta que os piores índices de esgotamento sanitário, correspondem às áreas com menor renda per capita, com maior percentual de pessoas negras e com maioria dos lares chefiados por mulheres com renda de até um salário mínimo. Tais condições amplificam o impacto da falta de água, ondas de calor, perdas materiais recorrentes devido a inundações e deslizamentos e adoecimento por exposição a contaminantes para essas populações. O racismo e a injustiça ambiental exacerbam formas de violência de gênero, por exemplo, pois qualquer problema no acesso à água, alimento ou abrigo aumenta a sobrecarga física e emocional das mulheres com suas famílias, expondo ainda mais mulheres e crianças à violência e exploração sexual.
Em contrapartida, cresce a participação dos movimentos sociais, das mulheres, dos povos indígenas e coletivos periféricos nas mais diversas esferas de resistência em resposta ao racismo ambiental e injustiça climática nos mais diversos espaços de decisão, bem como nas conferências pelo clima. Segundo o BID, a participação das mulheres nas Conferências das Partes, a COP, garante maior efetividade e longevidade aos acordos celebrados, sendo fundamental para aumentar a resiliência de nossas sociedades frente à emergência climática.
A persistência de problemas de saneamento básico e de moradia expõem as populações periféricas a frequentes inundações, deslizamentos de terra e infecções por vírus e parasitas de veiculação hídrica, sobrecarregando serviços de saúde. No campo, aumentam as disputas por terra e acesso à água à medida que avançam a mineração, a agropecuária e grandes obras de infraestrutura. E, infelizmente, o acirramento de disputas militares no plano geopolítico eclipsam os esforços para reduzir as emissões, acentuam a crise energética e a disputa por recursos naturais.
Guerras naturalizam os preconceitos, o ódio e a insegurança, impedem o consenso e a concertação necessária entre as nações para efetivar as medidas climáticas contra o aquecimento global.
Agora, é preciso multiplicar os esforços e as parcerias pela paz, pela igualdade de oportunidades, pelo fim das desigualdades e violências baseadas em raça, gênero, nacionalidade e condição social, combatendo o racismo ambiental e aumentando a resiliência e a capacidade de adaptação diante das mudanças climáticas.
Coletivamente, precisamos trazer sustentabilidade às nossas vidas. A adaptação necessária pede autonomia e novas formas de pensar nossas comunidades e a economia global. Muita coisa já existe, já foi feita por povos e comunidades tradicionais que têm muito a nos ensinar com seus modos de vida e suas cosmologias. Elas precisam inspirar políticas públicas de amplo alcance capazes de promover as mudanças estruturais que a emergência climática exige.
Referências:
WMO confirms that 2023 smashes global temperature record
https://www.ibp.org.br/personalizado/uploads/2023/05/infografico-desigualdade-de-genero-e-mudancas-climaticas.pdf